A primeira vez em que vi um eletrocardiograma feito a distância, em 1992, em Israel, eu soube que aquilo podia mudar o mundo. Sem internet, as ondas sonoras passavam por uma linha analógica e eram desenhadas do outro lado. Um médico cardiologista fazia o laudo e mandava para o paciente. Naquele momento, eu decidi trazer a técnica para o Brasil. Aqui, porém, a realidade foi outra e não consegui implantar o mesmo modelo, por diversas questões que esbarravam na legislação, e que não permitiam a prática da telemedicina no país em uma relação direta entre médico e paciente.

Mesmo assim, em 1993, flexibilizamos o formato e conseguimos abrir as portas da telemedicina no Brasil, começando por diagnósticos cardiológicos. Porém, eles tinham que ser feitos entre médicos plantonistas e clínicas, hospitais e empresas, nunca direto com o paciente.

Isso faz 25 anos, e, de lá para cá, a internet e a constante revolução da tecnologia foram permitindo mais e melhores exames, laudos e atendimentos infinitamente mais complexos. Mesmo assim, no Brasil, há limitantes a procedimentos médicos a distância. Os argumentos que sustentam esse bloqueio vão desde fraude médica à segurança da informação – questões passíveis de riscos no mundo físico também.

A telemedicina reduz custos com saúde tanto nos setores público quanto no privado. Aumenta a competitividade entre as variadas empresas que usam o formato, aumentando consequentemente, a qualidade do atendimento. A tecnologia continuará se aprimorando, o que melhorará os procedimentos tornando-os ainda mais acurados. A telemedicina salva mais vidas.

É certo que estamos chegando a um momento de abertura total, que precisa de regulamentação flexível e clara, e só está sendo possível graças à união das empresas do setor, que estamos promovendo há cerca de um ano. Não temos mais escolha. O Brasil é um país de dimensões continentais, sem acesso à saúde em várias regiões. Talvez seja difícil para quem vive no sudeste e sul do país compreender o tamanho dessa restrição, pois 70% dos médicos especialistas estão concentrados nessas regiões. Em São Paulo, são quatro médicos para cada mil habitantes, enquanto no Nordeste são apenas dois médicos para cada mil. No Norte é menos de um médico.

Impedir a telemedicina no Brasil é negar atendimento especializado de qualidade a uma enorme parcela da população, é um revés para a saúde do país e nos remove dos mais importantes avanços de tecnologia médica deste século. Ela não só é incontestável, como mandatória.

Dr. Roberto Stryje, fundador e presidente da Telecárdio.