Quando ouvimos a palavra Design, talvez você naturalmente se lembre dos desenhistas de móveis, moda, carros, eletrônicos e outros produtos aonde a forma é pensada como expressão de ideias, sentimentos e valores. A noção de design como uma “forma de pensar” tem sua origem traçada a partir de 1969 quando o economista americano Herbert A. Simon, ganhador em 1978 do Nobel de Economia, escreveu seu livro The Science of the Artificial.  O Prof. Simon disse numa ocasião que “desenhar é planejar cursos de ação para mudar as situações existentes para outras preferidas.”

Nesse sentido, aparece mais recentemente o Design Thinking. Há várias definições sobre Design Thinking, mas poderíamos aproveitar uma do Wikipedia que o define como “o conjunto de métodos e processos para abordar problemas, relacionados a futuras aquisições de informações, análise de conhecimento e propostas de soluções. Como uma abordagem, é considerada a capacidade para combinar empatia em um contexto de um problema, de forma a colocar as pessoas no centro do desenvolvimento de um projeto; criatividade para geração de soluções e razão para analisar e adaptar as soluções para o contexto”.

Mas como poderíamos aplicar o Design Thinking na Saúde, um ecossistema tão complexo, conservador em vários aspectos e lento em adoção de mudanças?

Para começar, precisamos entender (UNDERSTAND) melhor os problemas e questões que a saúde enfrenta para então ‘planejar cursos de ação para mudar as situações existentes para outras preferidas’. Há tanto por fazer na saúde, tantos problemas e oportunidades de melhora, que fica difícil de decidir por onde começar, não concorda?

Por isso, temos que saber quem será o foco de tal design da saúde. E o que temos nos apercebido com maior intensidade é que esse eixo central da nova saúde se chama PACIENTE!

Desde 1969 que a proposição de colocar o paciente como centro da medicina e do atendimento já era discutida. Mas prevaleceu nesse meio século centrar na doença os esforços. Tivemos avanços significativos com essa escolha, pois passamos a compreender bem mais os males que nos afligem. Mas ao mesmo tempo se perdeu de vista o paciente, que era encarado como “o portador da doença”. E ainda somos vistos em grande medida desta forma pelo modelo de sistema assistencial e de custeio da saúde, não só no Brasil mas em todo o mundo. Por esse motivo, a nova abordagem está resgatando o centro do cuidado no paciente, não na doença ou enfermidade que este apresenta.

Em segundo lugar precisamos desenhar e explorar (EXPLORE) as novas formas e meios de transformar a saúde atual numa saúde digital, no qual os dados e informações acumuladas de cada pessoa passam a contar SUA história, o que é bem diferente de como enxergamos hoje os pacientes.

Já escrevi vários artigos sobre diversas dessas novas opções tecnológicas, como Blockchain, Inteligência Artificial, Big Data, Wearables, Telemedicina e Realidade Virtual, dentre outros, que podem ser acessados no texto “Aonde a Saúde Digital nos levará? – Artigos a de 2017”.

Um dos exemplos que mostram por onde o Design Thinking na Saúde Digital está trabalhando é na área da tecnologia móvel – dos nossos smartphones. Eles se tornaram nosso portal de comunicação com o mundo; mais do que um mero telefone ele é hoje uma extensão de nosso corpo e mente. Dependemos dos nossos celulares para quase tudo, do mapa que nos conduz pela cidade, do Google para perguntar qualquer coisa, das dezenas de Apps que instalamos com diferentes propósitos, e por aí vai.

Uma matéria do jornal The Wall Street Journal, de 10/01/2015, trouxe uma matéria intrigante e cada vez mais realista: “Seu smartphone irá vê-lo agora”. Ele será em grande parte nosso “médico pessoal”.

Mas o que o Design Thinking também precisa ajudar não são somente os novos produtos que permitam medir, monitorar e gerar dados. Precisamos também revisar e construir novos processos (TESTAR) em que estas informações passem a trabalhar a nosso favor, nos levar da gestão de doenças para a prevenção, que foque na manutenção da Saúde! Esta foi a razão da capa da renomada revista The Economist no mês de fevereiro de 2018 – os dados que contam nossa história precisam mudar as condutas que adotamos e das que são prescritas para nós. É o design da saúde personalizada!

Sim, há muito por fazer e esse tema do Design Thinking na Saúde Digital é apenas o começo de uma revolução e transformação de todo o setor da saúde. Não estamos falando daquelas sessões bacaninhas em que ficamos em grupos colando Post-It nas paredes, fazendo protótipos rudimentares e pilotos de Apps num final de semana de Hackathon. Essa é a parte fácil e lúdica.

O desafio está em sabermos que reais questões queremos e precisamos responder! Senão vamos construir soluções inúteis, desperdiçar tempo e recursos escassos para não resolver as dores de nós pacientes e da saúde como ecossistema.

Muitos de nós quando crianças lemos o livro Pequeno Príncipe. Nas muitas metáforas e lições contidas nessa bela história do fabuloso autor Antoine de Saint-Exupéry, algo que podemos aprender na questão da transformação da Saúde Digital é que o design que precisamos criar deverá focar na construção de pontes entre os pacientes e os profissionais da saúde, movidos por um sentimento humano de empatia, que fortalecerá o florescimento daquilo que tanto ouvimos e desejamos – uma saúde mais humanizada!

A tecnologia digital deve ser PONTE e não MURO, e o Design Thinking deve ter essa missão na construção da Saúde Digital!

Voltarei a esse tema em futuros artigos.

Guilherme Rabello responde pela Gerencia Comercial e Inteligência de Mercado do InovaInCor – InCor / Fundação Zerbini (grabello.inovaincor@zerbini.org.br). Atua como consultor, palestrante e escreve artigos sobre inovação, tecnologia e negócios.