tecnologia da informação (TI) precisa sair do aquário nas organizações de Saúde – com urgência. Quando analiso o papel do líder  de TI de uma instituição bancária, vejo alguém com responsabilidades gerenciais e participação ativa nas decisões de negócio. Muitas vezes esse executivo é o vice-presidente do banco ou ocupa uma diretoria de destaque.

As organizações de Saúde brasileiras têm muito a aprender com esse modelo. Na maioria delas, a TI ainda é vista como uma área operacional – não que esse atributo não seja importante: é, de fato, essencial, mas não um diferencial. Em nosso setor, o líder de TI ainda é “o cara do CPD”, aquele que comanda o Centro de Processamento de Dados e é chamado somente quando os computadores e sistemas não estão funcionando adequadamente.

Na era da transformação digital, que enxerga a tecnologia como aliada dos processos de qualquer organização, o papel da TI precisa mudar. Inovações como Business Intelligence (BI), analytics e big data permitem que o volume de dados digitalizados e armazenados pelas instituições seja trabalhado de forma a gerar insights de negócio preciosos, que podem mudar os rumos de uma instituição – e até mesmo evitar que ela quebre. A TI se torna, então, o mineiro que garimpa ouro em meio às águas de um rio turbulento.

Para isso, é preciso que ela faça parte da estratégia das organizações de Saúde. É necessário que os responsáveis pela área, assim como nas instituições bancárias, participem das decisões relacionadas à gestão em Saúde. Mais que isso, são eles que trarão as informações estratégicas, obtidas a partir dos dados brutos agrupados em Prontuários Eletrônicos do Paciente (PEP), sistemas de gestão hospitalar (Enterprise Resource Planning – ERP) e mesmo pelos modernos dispositivos vestíveis, que permitem monitorar pacientes em tempo real – e que estão em pleno desenvolvimento. É a TI quem enxerga o valor desses dados, estruturados ou não, para a tomada de decisão no hospital.

Com o trabalho do departamento, fazendo uso de BI, analytics, big data e outras ferramentas do tipo, é possível, por exemplo, descobrir que a maternidade de um hospital tem custos elevados e, em contrapartida, o setor de oncologia é o principal responsável pelo faturamento da organização. Diante dessa análise, pode-se optar por fechar a maternidade e investir mais recursos na oncologia.

Para aprofundar esse tema e trazer exemplos práticos de organizações que colocaram a TI como parte da estratégia de negócio, convido à leitura no Blog da MV dos conteúdos especiais TI Estratégica #1: Jacson Barros, do HC, destaca papel da tecnologia na SaúdeTI Estratégica #2: Hospitais não crescem sem estrutura estratégica de TI e TI Estratégica #3: Tecnologia na Saúde amplia qualidade dos dados e influencia decisão de negócios, que contam com entrevistas com grandes executivos da área da Saúde.

Paciente no centro

Além de alcançar resultados financeiros, a mudança do papel da TI também impacta o atendimento ao paciente, colocando-o no centro da estratégia das organizações de Saúde. É possível acompanhá-lo de perto, de forma individualizada e humanizada, pois seu histórico está disponível para médicos e demais funcionários, por meio de uma única plataforma interligada.

Com esses dados trabalhados por ferramentas tecnológicas, pode-se, por exemplo, criar grupos de monitoramento de pacientes baseados no risco de apresentar determinada doença e, assim, praticar a preditividade, que considero como o futuro da Saúde. Esse acompanhamento mais próximo gera um indivíduo mais empoderado em relação à sua saúde e qualidade de vida, o que facilita e aumenta as chances de maior engajamento ao tratamento proposto.

A TI também é capaz de enxergar gargalos e sugerir mudanças de processos que garantam mais segurança ao paciente. Além disso, os dados trabalhados pelo departamento podem possibilitar apoio ao diagnóstico médico, por meio da criação de protocolos clínicos que permitem a prática da medicina baseada em evidência.

Está na hora, portanto – ou estamos quase passando dela – de a TI sair do aquário e tomar parte nas decisões estratégicas do hospital.

Paulo Magnus, presidente da MV.