Algumas profissões tem como pré-requisito a discrição. Tem que ter o DNA do sigilo, para poder atender a legislação que requer confidencialidade de dados bancários, de saúde, até mesmo judiciais. Logo, profissionais que atuam em estas áreas, precisam trazer em sua índole, manifestar em seu caráter ou desenvolver através de capacitações a habilidade de preservação e proteção da informação.

Ou seja, se a reputação de uma empresa se passa pela competência de suas equipes, em última análise, o comportamento individual de cada colaborador tem efeito direto na imagem da marca.

E foi isso que começou a acontecer com os excessos de exposição de profissionais de áreas médicas e de saúde nas mídias sociais. O efeito colateral das Selfies, dos Nudes, passou a repercutir juridicamente em quebra de sigilo médico, ou seja, em infração legal da mais alta gravidade.

Portanto, não é de se surpreender a medida extrema, porém necessária, tomada pelo Conselho Federal de Medicina, com a publicação da resolução nº 2.126/2015 em setembro de 2015, proibindo que os médicos divulguem selfies em situações de trabalho e atendimento.

No Brasil, infelizmente, há necessidade de normatizar tudo, até o que deveria ser bom senso. E nossa maior vulnerabilidade atual, com o avanço tecnológico, é o nosso retrocesso educacional.

Acertada a decisão do CFM, tomada para proteger os pacientes, os profissionais, os hospitais, o próprio mercado, relembrando que a privacidade e o anonimato são inerentes ao ato médico. Mas só uma lei não basta, só uma regra não é o suficiente para mudar a cultura.

Esta geração de profissionais médicos mais digital, nascida depois dos anos 80 está vivendo esta era dos excessos da liberdade e há necessidade de se realizar campanhas educativas obrigatórias nas Instituições de Ensino Médicas. Em analogia com o que este ano passou a ser exigido de outro segmento, o Escolar, com o combate ao bullying.

Além disso, para quem descumprir, a punição tem que ser exemplar. Isso porque a má conduta de alguns está maculando a imagem dos médicos. Não pode um paciente ter medo de ser atendido ou mesmo internado sem saber se sua foto vai vazar na internet. As Instituições médicas sérias tem um dever de garantir segurança e bem estar para os pacientes. Este é o maior compromisso de toda a comunidade de médicos e enfermeiros, o seu fim social.

A auto promoção não pode prevalecer em detrimento da proteção da privacidade do ser humano. Realmente, nem todos tem as aptidões necessárias para o exercício da profissão, que exige mais que habilidades técnicas, exige um amor ao próximo acima de si mesmo, acima de receber curtidas no Facebook. 

E ao final veremos, que com o aumento do rigor educativo, dentro das Universidades, formaremos mais que médicos e enfermeiros qualificados tecnicamente, formaremos cidadãos digitalmente corretos, que sabem usar tecnologia de forma ética, segura, saudável, sustentável, dentro da lei e para permitir maior bem estar para o ser humano.

Muitos médicos ainda desconhecem todos os riscos e efeitos colaterais envolvidos no compartilhamento de informações por canais digitais, bem como os impactos que um vazamento de informação ou mesmo a publicação de um conteúdo na web pode ter na sua vida profissional e na sua reputação.

Existem espaços próprios mais adequados para discussões de casos e diagnósticos e o médico deve buscar essas plataformas como apoio para informações seguras e de qualidade. Uma alternativa é consultar guias orientativos que sirvam de diretriz (guideline) para suas condutas digitais de modo a evitar riscos que possam afetar sua carreira, especialmente no que envolve questões de postura ética e de sigilo nestes ambientes online.

Vale destacar também que o Código de Ética Médica veda ao profissional consultar, diagnosticar ou prescrever por qualquer meio de comunicação em massa. Portanto, em caso de abordagem de pacientes nas mídias sociais, a função do médico é meramente educacional e de esclarecimento. Apesar de parecer um ambiente privado, as mídias sociais permitem compartilhamento sem controle.

Em respeito ao sigilo e também para evitar boatos e mal entendidos, o ideal é que o intercâmbio de experiências médicas ocorra por meio de mensagens restritas, em grupos fechados ou, preferencialmente, em mídias sociais profissionais específicas. Opte pelas redes que ofereçam segurança para transmissão de dados, utilizando uma senha forte, diferente de outras mídias sociais e exclusiva. Isso pode previnir o vazamento de suas informações e o acesso de terceiros aos seus perfis.

A principal dica sobre postura em redes sociais envolve a pessoa sempre refletir sobre a “perpetuidade do conteúdo ali colocado” assim como “contexto” e “conexões”. Havendo esta preocupação, esta diligência, grande parte dos problemas são evitados.

Dra. Patricia Peck Pinheiro, advogada especialista em Direito Digital, formada pela Universidade de São Paulo, sócia fundadora do Patricia Peck Pinheiro Advogados, autora de 16 obras sobre o tema, condecorada com 3 medalhas militares, reconhecida como advogada mais admirada em propriedade intelectual no Brasil por 6 anos consecutivos de 2010 a 2015 pela 500 Maiores e Melhores da Advocacia e vencedora duas vezes do prêmio Security Leaders em 2012 e 2015 por seus trabalhos de responsabilidade social na educação em ética e segurança digital de crianças e adolescentes.

Veja mais orientações nesta cartilha, resultado de parceria entre o Patricia Peck Pinheiro Advogados, a Associação Paulista de Medicina e a Ology. https://www.ology.com.br/melhores-praticas-para-medicos-nas-redes-sociais/