Embora a indústria farmacêutica possa demorar a adaptar-se à mudança em relação as demais indústrias, principalmente devido a restrições regulatórias, dentro do contexto de tecnologias emergentes temos observado uma tendência tanto em farmacêuticas locais e multinacionais de investimentos em Cloud Computing, IoT, Big Data, Robotic Process Automation entre outras tecnologias. Também se popularizou conceitos como “Patient Centricity” e a questão da importância da jornada de pacientes tem sido um BuzzWord constante dos executivos da indústria farmacêutica.

Mas algumas questões ficam no ar:

Transformação Digital é apenas tecnologia? O que significa Transformação Digital para indústria farmacêutica?

A resposta dessas perguntas sem dúvida não é algo de rápida ou simples definição, porém observando outras indústrias algumas constâncias são observadas:

1-  A liderança comprometida com essa transformação:

Na maioria das indústrias farmacêuticas em operação no Brasil, observamos inúmeros profissionais no nível de gerência com posições de Gerente de Multicanal, Gerentes de Marketing Digital, ou questões de Transformação Digital apenas relacionadas a posições de TI com gerentes e CIOs.

O linkedin apesar de não ser o local ideal para entendimento se há engajamento da liderança responsável pela transformação digital, um indicativo é fácil de se perceber, encontramos pouco ou quase nenhuma menção de CEOs ou mesmo executivos da Diretoria comprometidos com a transformação digital.

A questão é para vocês agora, em sua empresa a liderança está comprometida com a Transformação Digital?

2- Novos modelos de negócio.

Novamente quando observamos o mercado farmacêutico, tipicamente ainda funciona em sua maioria com farmacêuticas tentando  “empurrar” seus produtos para os distribuidores. Apesar de o foco no paciente ser parte das missões de todas empresas o foco real na sua maioria ainda são os médicos e profissionais da saúde. Em paralelo na indústria de Medical Devices as discussões de remuneração baseada em resultado começam a tomar corpo, porém nas Farmacêuticas pouco tem se feito em novos modelos de negócio ou geração de novos tipos de receitas.

As questões voltam para vocês, o pensamento de mudar o formato do relacionamento entre a indústria farmacêutica e os médicos já foi repensado? Novos modelos comerciais suportados por plataformas digitais já chegaram em sua organização?

Na era das plataformas, sua empresa já discutiu qual será o ”Uber” do Mercado Farmacêutico?

3- Processos Analógicos não adaptados as tecnologias digitais.

Apesar de relevantes investimentos em tecnologia nas indústrias, com a criação de diversos aplicativos para médicos, pacientes e outros stakeholders da indústria, os processos continuam “analógicos”, representantes são munidos de novas tecnologias de CRM, diversos canais digitais são implementados e cada um continua dentro de seus departamentos, sem que representantes saibam o que médicos consumem ou preferem de outros canais. As áreas de inteligência de mercado em parceria com empresas de informação produzem cada vez mais informação e pouca inteligência é criada, mesmo com os avanços das tecnologias as segmentações de painéis de médicos continuam sendo feitas praticamente do mesmo jeito que a 10 anos atrás.

Qual será o caminho para que os processos internos acompanhem a implementação de tecnologias digitais?

4- Experiências!!!!!

No contexto que vivemos hoje em dia, no qual a transformação digital atingiu praticamente todos os aspectos do nosso dia a dia, com plataformas que nos atendem de formas nunca imaginada, deslocamento (Uber/99), moradia( AirbnB) entre outras ações se tornem serviços consumidos onde e quando queremos, finalmente temos controle real do nosso dinheiro com as FinTechs que inclusive provêm crédito sem anuidades entre outros modelos de negócios/serviços, que transformam nossa experiência e percepção de como queremos ser servidos, algo comum de todas essas plataformas, é que elas entenderam o que seus clientes desejavam mesmo sem eles, muitas vezes, perceberem que desejavam essas experiências.

Um shift bem claro de product development para Customer Development é facilmente observado e uma empatia real para a criação de serviços que realmente tragam valor para seus usuários.

Saindo um pouco do contexto de produtos farmacêuticos, o que nossos clientes, sejam pacientes, médicos, seguradoras, farmácias, distribuidores etc… O que eles querem? O que eles precisam? O que eles não sabem que querem ainda?

E uma pergunta muito relevante, qual foi a última vez que você pensou nas reais necessidades e anseios de seus clientes?

Não como um ponto passivo, mas como uma opinião: ‘A transformação digital depende de tecnologia, mas definitivamente não é tecnologia’ Concordam?

Voltando ao título do texto a pergunta fica para vocês: A Transformação Digital chegou a indústria farmacêutica Brasileira?

A conversa começa nos comentários, conte um pouco mais como você vê a questão e a importância da agenda de transformação digital na organização que você atua.

Thiago Rocha, gerente Especialista em Mercado Farmacêutico na Accenture e Professor na ESPM nos temas de Transformação Digital e Inovação.