O Food and Drug Administration (FDA) liberou para uso nos Estados Unidos a solução da startup brasileira brain4care. Trata-se do método não invasivo de monitorização da complacência cerebral (CC) por meio da morfologia do pulso da pressão intracraniana (PIC). A solução envolve um sensor externo encostado na cabeça do paciente, que é capaz de captar alterações e condições que antes somente poderiam ser coletadas por meios invasivos, como um cateter inserido cirurgicamente no cérebro.

Com essa nova possibilidade de acompanhar de maneira muito mais simples, rápida e acessível a evolução do quadro clínico de pacientes neurocríticos, a startup prevê a criação de um ‘novo sinal vital’, com potencial para transformar a vida de 1 bilhão de pessoas nos próximos anos.

“A liberação do nosso método pelo FDA é uma conquista importante para o próximo passo de nossa estratégia de consolidar a inovação no mercado norte-americano. No Brasil, já temos hospitais e instituições de pesquisa utilizando a monitorização não invasiva da PIC”, diz Plinio Targa, CEO da brain4care. Segundo o diretor científico da startup, Gustavo Frigieri, a coleta de dados da PIC por meio de métodos invasivos restringia essa opção a casos selecionados, em geral de pacientes mais graves. Com a possibilidade de monitorizar a PIC de maneira não invasiva, esses dados ficam acessíveis para uso em diagnóstico, acompanhamento de pacientes, além de abrir um enorme campo para pesquisadores.

Por sinal, nos Estados Unidos, a brain4care já faz uma importante pesquisa na Stanford University. Os cientistas dessa universidade estão comparando os dados da monitorização invasiva da PIC com a feita pelo método brain4care. As conclusões intermediárias do estudo serão publicadas no final deste ano. Diretor da brain4care nos Estados Unidos, Claudio Menegusso, destaca a importância de acelerar pesquisas em território norte-americano com objetivo de aumentar o volume de evidências científicas, ampliando o conhecimento do método pela comunidade médica.

Quebra de paradigma na medicina

O desenvolvimento o método inovador da brain4care foi possível graças aos estudos do Professor Sérgio Mascarenhas de Oliveira, físico e químico brasileiro reconhecido por sua atuação em ciência e educação. Diagnosticado em 2005, aos 77 anos, com hidrocefalia, doença que provoca acúmulo de líquor em cavidades do cérebro, Mascarenhas fez uma cirurgia para implantar uma válvula que drena o excesso de líquido e retornou à sua vida normal. Movido pelo inconformismo diante dos procedimentos invasivos, realizou experimentos que provaram que o crânio é expansível e que suas deformações podem ser captadas por fora.

O resultado derrubou um dos pilares da Doutrina de Monro-Kellie, estabelecida há 200 anos. A partir de sua descoberta, Mascarenhas desenvolveu o método brain4care. A monitorização não invasiva por meio de um sensor levanta dados sobre a CC por meio da morfologia do pulso da PIC, expressa em dois gráficos: um mostra a morfologia da curva minuto a minuto e a correlação entre seus pulsos; e o outro, a tendência da pressão ao longo do período monitorado.