A endometriose é uma doença ginecológica crônica que atinge cerca de 176 milhões de mulheres em todo o mundo. Caracterizada pelo implante de células do endométrio (tecido que reveste o útero internamente e descama na menstruaçāo) na cavidade do abdômen, a doença pode provocar dores incapacitantes, além de ser uma das principais causas da infertilidade feminina. Por vezes, seus sintomas assemelham-se ao de cólicas menstruais comuns ou são mascarados por conta do uso contínuo de anticoncepcionais, o que acaba resultando em um diagnóstico tardio.

Para aprimorar o mapeamento da patologia, que tem alta prevalência, profissionais de saúde como médicos radiologistas, ultrassonografistas, cirurgiões ginecológicos e ginecologistas estarão reunidos na 49ª Jornada Paulista de Radiologia (JPR 2019) com o objetivo de criar um consenso sobre o diagnóstico por imagem da endometriose, que busca padronizar critérios que possam ser utilizados pelos radiologistas nos seus laudos e compreendidos com clareza por cirurgiões, ginecologistas e pacientes.

“A doença é de difícil diagnóstico – por isso, é necessário treinar especialistas para fazer a identificação da endometriose nos exames de imagem”, afirma a Dra. Luciana Pardini Chamié, médica radiologista especialista em imagem da pelve feminina e doutora em radiologia pelo INRAD-HCFMUSP.

Exames como ultrassom e ressonância magnética são fundamentais não somente para identificar a endometriose, mas para fazer o mapeamento e avaliação da doença profunda, além de planejar a melhor estratégia cirúrgica. “Eles confirmam o diagnóstico, grau e demais detalhes da doença. Por meio deles, é possível saber qual é a melhor decisão para a paciente, se o tratamento será medicamentoso ou cirúrgico, e realizar um acompanhamento ao longo da vida”, afirma a Dra. Ana Luisa Alencar de Nicola, médica assistente da Santa Casa de São Paulo no setor de endoscopia ginecológica e endometriose, que será responsável pela palestra “Como Diagnosticar e Avaliar a Gravidade da Endometriose no Compartimento Posterior por US” durante o módulo de Imagem da Mulher da JPR 2019.

Por ser o maior evento de Diagnóstico por Imagem da América Latina e reunir um número expressivo de profissionais da área, a JPR 2019 foi escolhida para discussão e elaboração do consenso, que posteriormente será publicado em um periódico científico de alto impacto. “Os profissionais de diagnóstico por imagem, ao longo do tempo, aprenderam a reconhecer os sinais da endometriose e aperfeiçoaram esse conhecimento. Por conta do amadurecimento das técnicas, os radiologistas tornaram-se importantes aliados aos cirurgiões ginecologistas, auxiliando a reconhecer melhor a doença e, a partir disso, definir a melhor estratégia a ser utilizada no tratamento”, explica o Dr. Jacob Szejnfeld, professor titular do Departamento de Diagnóstico por Imagem da EPM-Unifesp e coordenador do módulo de Imagem da Mulher da JPR 2019. “Resolvemos organizar o consenso aproveitando a importância e grandeza da JPR, que congrega profissionais de todo o Brasil e de outros países do mundo”.

Durante o evento, também serão revelados os dados do estudo multicêntrico Comparação do gel vaginal e retal no diagnóstico da endometriose profunda. “O estudo foi realizado em conjunto com radiologistas da comunidade europeia – os resultados preliminares serão mais um auxílio para definir a melhor conduta durante a realização de um exame de ressonância magnética”, afirma a Dra. Suzan Menesce Goldman, professora associada e livre docente do Departamento de Diagnóstico por Imagem da EPM-UNIFESP.

O Consenso de Endometriose da JPR 2019 reunirá especialistas que lidam diariamente com a doença e as dificuldades técnicas dos exames para identificá-la e mapeá-la. Seu objetivo é padronizar não só a pesquisa, mas a interpretação e a linguagem em que é apresentada às pacientes e difundir entre os médicos qual é o mínimo necessário para realizar um bom exame.