Duas cifras alarmantes sobre o setor de saúde no Brasil em 2017 clamam pela melhoria das práticas de gestão hospitalar: ainda uma redução de 281,6 mil conveniados aos planos de saúde suplementar segundo a ANS (a Agência Nacional de Saúde Suplementar reporta queda de 0,6% sobre os 47,6 milhões de beneficiários em dezembro de 2016) e 20% dos R$ 500 bilhões gastos por ano em perdas e desperdícios segundo estudos da Associação Nacional de Hospitais Privados, ou seja por seus associados.

A recessão dos últimos anos retirou 3,1 milhões de usuários (6%) dos planos de saúde suplementar nos últimos três anos, ou por perda de poder aquisitivo ou por perda dos benefícios concedidos por empregadores que fecharam vagas ou deixaram de existir. Mas esta queda de clientes está longe de ser o único problema do setor. O desperdício com procedimento cirúrgico, exames desnecessários, compra indevida de insumos, fraudes, e, principalmente, aquisição desnecessárias de novos equipamentos, chegou à cifra de R$ 100 bilhões no ano passado.

Com menos dinheiro no caixa, devido ao menor número de clientes e o desperdício, a adoção de um bom programa de gestão de ativos e de manutenção permite (1) postergar investimentos – usar os ativos por mais tempo e de melhor forma, com menos gastos em sobressalentes – (2) melhorar a capacidade de atendimento – pela eliminação de paradas desnecessárias que subtraem tempo valioso para tratar de clientes e pacientes – e (3) operar as equipes de manutenção próprias e terceirizadas de forma mais eficiente – com menos horas extras, com gente que sabe o que tem de fazer na hora de reparar um equipamento.

Ter conhecimento do ciclo de vida de seus equipamentos, garantir que as estações de tratamento de dejetos hospitalares estejam em perfeito estado, que uma intervenção cirúrgica não seja interrompida por falta de eletricidade da rede externa e por desleixo ao deixar de observar o nível de diesel no gerador de eletricidade de back up são preocupações diárias em um hospital, que se tornou, ao longo dos anos, uma estrutura complexa e cara: de um simples “hotel para doentes”, no qual o portador de alguma doença ficava hospedado por semanas ou meses recebendo atendimento com aparelhos muito simples, para um centro inovador com equipamentos sofisticados, salas modernas de exames e atendimentos e estoques de consumíveis para atender procedimentos médicos.

A necessidade por plataformas de gestão de ativos ainda está em segundo plano para administradores hospitalares e CIOs. As prioridades destes estão voltadas para os custos de pessoal e dos sistemas de atendimento e de back office dos hospitais, além do cuidado aos pacientes e gestão da hotelaria das redes hospitalares. Mas estudos indicam que, ao optar por essa solução, as empresas podem alcançar uma economia significativa.

Uma boa plataforma de gestão de ativos pode proporcionar entre 25% e 45% de redução de custos, que para os hospitais particulares brasileiros representa uma oportunidade de ganho entre R$ 2 bilhões e R$ 3,5 bilhões por ano (ou entre 0,4% a 0,7% das despesas de operação de um hospital, adotando as cifras da ANAHP). A redução de custos por meio de uma estratégia de gerenciamento dos ativos hospitalares é fácil de mensurar: economia com equipes terceirizadas de limpeza e gestão de facilities, energia elétrica e, principalmente, com manutenção de máquinas de raios X, instrumentos cirúrgicos, unidades de tomografia e ressonância nuclear e equipamentos para a telemedicina. Todos esses itens fazem parte de um rol de ativos críticos de uma clínica médica e para manter estas máquinas e instalações em perfeito funcionamento é necessário lançar mão de uma solução moderna para monitorar o ciclo de vida desses aparelhos, que, além de proporcionar benefícios financeiros para as empresas, melhora o nível de atendimento aos pacientes. Nesta conta, não se computam os ganhos com a possibilidade de gerar mais receitas: afinal, se há mais capacidade de atendimento, por que não vendê-la?

Diminuir o risco de morte

Gestão de ativos em hospitais contribui para o aumento da disponibilidade dos equipamentos e maior precisão na detecção de falhas na operação. Sensores e atuadores espalhados pelas instalações podem alertar e interromper vazamento de nitrogênio líquido ou de oxigênio, identificar a quantidade de diesel nos geradores de eletricidade dos sistemas redundantes de energia do hospital, além de possibilitar que auxiliares de enfermagem avisem sobre a necessidade de conserto em camas ou de calibração de instrumentos na triagem. Isso aumenta a eficiência dos profissionais, que não desperdiçam tempo e capacidade de atendimento, e diminui o risco contra a vida de pacientes, seja pela demora da intervenção, como pela ausência de ferramentas corretas para realizar o procedimento médico.

A principal missão de todas as instituições de saúde é assegurar que os pacientes estejam recebendo remédios e tratamentos adequados e toda a equipe médica, na grande maioria, faz um trabalho extraordinário para garantir que isso aconteça. Isso exige uma gestão de ativos de um hospital feita de forma profissional, medida, consistente, automatizada e de menor custo. Quem faz, deve saber que está salvando vidas.

Antonio Carlos Brito, sênior Principal, Digital e Value Engineering da Infor no Brasil.