Prevenir sequelas neurológicas em recém-nascidos e mudar a vida de pacientes com alto risco para lesão, por meio da maior rede de monitoramento cerebral de bebê com alta tecnologia e inteligência artificial.

Esse é o objetivo de um projeto inédito no Brasil, criado pela PBSF – Protecting Brains & Saving Futures (Protegendo Cérebros, Salvando Futuros) que promove a difusão do conceito de UTI Neonatal Neurológica e oferece aos hospitais apoio de uma Central de Monitoramento 24 horas.

Isso porque, no Brasil, estima-se que nasçam de 6 a 18 mil bebês /ano com asfixia perinatal, popularmente conhecida como falta de oxigenação no cérebro durante o parto. Nascem aproximadamente 1 a 2 bebês com asfixia perinatal por hora e, estudos estimam que caso não sejam oferecidos os tratamentos mais atuais, cerca de 35% dos sobreviventes terão que viver com déficits neurológicos.

O pediatra e neonatologista, Dr. Gabriel Variane, conta que a iniciativa surgiu devido à preocupação de especialistas com esses altíssimos números e, consequentemente, com o aumento dos custos gerados por doenças graves e permanentes, originadas por problemas na hora do parto.

“O cenário atual envolvendo pacientes de alto risco para lesão cerebral envolvem cerca de 40 casos por hora”, diz Variane.

Os bebês inseridos nesse grupo de risco são: recém-nascidos com asfixia perinatal, com crises convulsivas, mal epiléptico, com malformações do sistema nervoso central, prematuros extremos, recém-nascidos com hemorragia intracraniana, cardiopatas e aqueles com erro inato do metabolismo.

No intuito de reduzir cada vez mais as possíveis lesões em casos de asfixia e prematuridade, a PBSF oferece aos centros associados aquilo que os principais centros de Neonatologia do mundo recomendam em terapêutica para asfixia neonatal: Central de Monitoramento e conexão 24h por dia; discussão de protocolos; promoção de assistência remota; aplicação de monitoramento cerebral; armazenagem de dados e análise de resultados da UTI Neonatal Neurológica. Também são disponibilizados treinamento longitudinal, metodologias e equipamentos para a implantação do Modelo UTI Neonatal Neurológica.

No Brasil, a criação do projeto foi possível graças à parceria da PBSF – Protecting Brains & Saving Futures (Protegendo Cérebros, Salvando Futuros) e da organização de fomento Axigen – uma organização que apoia startup voltadas à saúde.

O frio faz bem? Hiportemia Terapêutica

Uma das principais tecnologias oferecidas pelo programa é denominada hipotermia terapêutica, técnica que prevê a redução da temperatura corpórea do bebê para proteção dos seus neurônios.

De acordo com o neonatologista, a hipotermia é o resfriamento do bebê para uma temperatura de 33 ou 34 graus, impreterivelmente, nas suas seis primeiras horas de vida, o que resulta em um excelente efeito neuroprotetor, incapaz de ser atingido por outro método terapêutico.

“A temperatura normal de um corpo humano varia entre cerca de 36 a 37 graus. Ao fazer esse resfriamento, é comum a ideia de que outros órgãos serão prejudicados. Enfatizamos que o procedimento é extremamente seguro, que os possíveis efeitos colaterais são manejáveis e que os benefícios superam, e muito, qualquer tipo de risco”, explica.

Hospitais 

O projeto nasceu na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e, atualmente, 13 hospitais já implantaram o sistema, após 25 meses de operação. Até julho de 2018, mais de 1300 pacientes já foram beneficiados.

O Hospital e Maternidade Santa Joana, localizado na capital paulista (SP) foi o primeiro serviço privado a implantar a UTI Neonatal Neurológica, que está fundamentada em quatro pilares – monitoração cerebral, avaliação neurológica, neuroimagem e neuroproteção.

Em julho deste ano, o Hospital Santa Luzia (HSL), da Rede D’Or São Luiz, recebeu o projeto, sendo a 1ª instituição do Centro-Oeste a contar com a tecnologia, promovendo a difusão do conceito de UTI Neonatal Neurológica e oferece apoio de Central de Monitoramento 24h

Em Santos, a tecnologia já foi implantada no Complexo Hospitalar dos Estivadores (CHE), o primeiro da Baixada Santista a utilizá-la; e na Santa Casa do município, que inaugurou a estrutura em maio deste ano.

“Nossa meta é alcançar 100 hospitais de todo o país em cinco anos e consolidar o programa como a maior rede de monitoramento cerebral e neuroproteção do mundo. Uma vez que, quanto mais baixa a condição socioeconômica, maiores os riscos, também pretendemos estreitar relacionamento com Secretarias e Ministério da Saúde, visando estender os benefícios para o SUS e grandes hospitais públicos”, conta Dr. Gabriel Variane.