Em dois artigos nós abordamos o tema de como os wearables (dispositivos vestíveis) farão parte de nossas vidas, e terão um papel significativo na monitoração de nossa Saúde Digital. Mas eles não trabalham sozinhos, precisam de um companheiro – o Aplicativo (também chamamos de App)!

Você deve ter talvez algumas dezenas deles em seu smartphone, que o auxiliam nas mais variadas tarefas: mapas, calculadora, foto, música, navegar na internet, comunicação por texto, midia social, etc. Eles hoje são criados para quase todas as aplicações e necessidades, muitas inúteis é verdade.

No campo da Saúde não seria diferente. O número de aplicativos de saúde móvel (conhecidos como mHealth Apps) aumentou nos últimos dois anos, com mais de 165.000 aplicativos de saúde agora disponíveis nas lojas de aplicativos Apple iTunes e Android, de acordo com um novo estudo do IMS – Institute for Healthcare Informatics.

Mas a pergunta óbvia é: Será que todos eles atendem nossas necessidades e são relevantes para nossa Saúde?

Antes de responder esta questão com dados do mercado e analises de especialistas, gostaria de relembrar uma outra fase de oferta de produtos que apresentavam promessas enormes de melhoria na saúde das pessoas. Voltemos ao final do século 19 e começo do século 20. Naquela época, o avanço na Medicina moderna começava a despontar com novas tecnologias como o Raio-X (que já abordamos no artigo Os Wearables da Saúde – A fronteira final na Medicina personalizada?).

Mas também na área de remédios havia uma enxurrada de novos produtos que promoviam cura e tratamento para quase qualquer doença. Eles tinham uma aparência de serem altamente científicos e comprovados, com novas substâncias descobertas que faziam “milagres” para os males comuns. Vejam apenas um exemplo de vários que a história possui (caso se interesse pode ler sobre outros neste link  http://www.bestmedicaldegrees.com/10-dangerous-drugs-once-marketed-as-medicine/ ):

A Bayer Pharmaceutical Products inventou a heroína (diacetilmorfolina) e começou a vendê-la a partir de 1898. A droga agora responsável por uma alta proporção de todas as mortes por overdose foi promovida como um supressor de tosse, bem como um substituto melhor e mais seguro para a morfina e codeína. A heroína foi recebida com os braços abertos como um remédio eficaz – sendo que na época a pneumonia, a tuberculose e até mesmo o resfriado comum eram flagelos – e a milhares de médicos foram enviados amostras grátis para tentar.


No entanto, já em 1899, começaram a surgir histórias de pessoas se tornando tolerantes à droga, e nos anos seguintes, casos de dependência começaram a ser relatados. A Bayer deixou de fabricar heroína em 1913, e foi proibida nos EUA em 1924.

Este exemplo não é isolado. Cocaína em gotas para dor de dente veio no mercado depois que os médicos descobriram suas qualidades para aliviar a dor. Uma empresa belga até promoveu pastilhas de garganta de cocaína como “indispensáveis para cantores, professores e oradores”. Dentistas e cirurgiões também usaram cocaína como um anestésico.

 

Haviam dezenas, senão centenas de xaropes e produtos ditos “Médicos” que promoviam a Saúde e nada mais eram que falácia ou um real risco s saúde da população. O tempo tratou de revelar isso, mas muitos sofreram as consequências.

Com esse histórico em mente, voltemos a questão central: Será que todos os aplicativos atuais para mHealth atendem nossas necessidades e são relevantes para nossa Saúde?

A resposta mais correta e honesta é NÃO! E dizemos isso com base nos trabalhos científicos e de mercado mais recentes, feitos por pesquisadores isentos e sérios. Note alguns dos dados de um estudo:

  • Apenas 12% dos aplicativos de mHealth respondem por 90% dos downloads de consumidores e 36 aplicativos geram quase metade de todos os downloads. Quase um quarto dos aplicativos de saúde dos consumidores estão focados no tratamento e gestão da doença, enquanto que o resto visa a aptidão e bem-estar.
  • Um terço dos médicos começaram a prescrever mHealth apps para seus pacientes, revelou o IMS. Quando os pacientes receberam tais prescrições, o relatório disse, suas taxas de aderência de 30 dias foram 10% maior do que para os pacientes que baixaram os mesmos aplicativos por conta própria. Para aplicações de fitness, as taxas de adesão foram 30% maior.
  • No entanto, o IMS observou, existem algumas barreiras importantes para uma expansão da prescrição de Apps de mHealth. Um deles é a falta de integração entre os dados do dispositivo mHealth e os registros eletrônicos de saúde (ou o prontuário eletronico do paciente). “Isso continua a ser um requisito fundamental para Apps de mHealth para atingir seu valor total na gestão de saúde, mas é um onde vemos apenas 2% dos aplicativos com essa capacidade”, disse Aitken.

Ou seja, não estranhe se em breve seu médico lhe prescrever algum aplicativo para sua Saúde! Assim como todo remedio e tratamento medico, essa prescrição precisa ser bem indicada e seus benefícios comprovados.

No gráfico abaixo, há uma analise geral muito bem feita sobre o mercado dos mHealth Apps. Você provavelmente se enquadra em um dos grupos avaliados.

Mas não se precipite em achar que todos os Apps são uma enganação, que são inúteis para auxiliar você no controle e melhoria de sua Saúde. Há diversos aplicativos que são comprovadamente indicados e tem impacto na melhoria da condição física dos usuários, e para tais os médicos devem sim olhar com atenção. Eles podem ser uma excelente prescrição junto com os demais itens tradicionais de tratamento.

Mas como saber diferenciar neste vasto universo de mHealth Apps os bons dos ruins? Como podemos nos assegurar que certos wearables de fitness e bem-estar com seus respectivos aplicativos não são um desperdício de dinheiro e que talvez nos façam mais mal do que bem?

Vamos analisar estas questões no próximo artigo!

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No próximo Post traremos um novo tema relacionado a aonde a Saúde Digital nos levará?

Abraços a todos!

Guilherme Rabello, gerência Comercial e Inteligência de Mercado do  InovaInCor – InCor / Fundação Zerbini.